Compreensão: passado - neurose

O único tempo possível para a resolução das questões do passado é o tempo da compreensão; e esse tempo trata-se de apenas algumas frações de segundo - ou alguns segundos - vendo do alto e de longe tudo que se passou. Essa é uma exigência vital, orgânica, corpórea de fato: nenhum tempo maior que essa mirada de compreensão imediata sobre o passado deve ser gasto 're-desenhando, re-justificando, re-encenando' ou simplesmente trazendo de volta qualquer traço disso que não tem substância ou realidade no presente. Se essas questões insistem em retornar é porque esse clarão imediato da compreensão ainda não se manifestou, e nesse ponto há um papel importante  do caminho terapêutico: os insight's primordiais, aqueles que de fato dissolvem a carga afetiva indigesta são resultados da psicoterapia, da fala legítima, sem amarra, do trazer à superfície e ver realmente. Há ferramentas, mapas, sinalizações que aceleram essa visão da realidade para além dos próprios afetos e identificação pessoal. Porque acelerar esse processo? Porque a vida é finita, um flash rápido, e a neurose ou as marcas fixadas da historicidade não devem ocupar um minuto sequer dessa trajetória.

A diferença central entre o caminho terapêutico e o caminho religioso toca no âmbito do que é e do que restará. No que é está a vida, as etapas de vida e diferentes formas de viver; o tempo, cada momento, as relações, as construções, e uma morte, um fim que, mesmo adornado de poesia metafísica é literalmente o fim de tudo isso como manifestação. No que restará cabe apenas o Mistério; não tente barganhar com o Mistério, criar uma segunda linha temporal projetiva por não suportar o infinito-além-do-tempo-e-das-coordenadas desse Mistério, sua não conceituação ou tentativa de estruturação - sua não correlação direta - ou impessoalidade diante dos valores, formas e regras da vida histórica, dos desejos da cultura...da ilha das coisas humanas, da forma humana (Don Juan).

@brunofontoura_








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