Individualidade

 

Individualidade

O que as pessoas buscam no fundo de qualquer caminhada em sistemas de desenvolvimento humano é a individualidade. Não individualismo, todo "ismo" é um desvio. E isso que chamam de felicidade é intrínseco à essa individualidade; qualquer busca por ela à parte de si-mesmo, como algo a ser agarrado como um objeto, conforto ou modelo de vida é também um desvio. A individualidade que surge no caminho é aquela que o processo de educação, a família e o sistema social tentaram e tentam impedir de acontecer - ou de ser - pois sempre esteve presente; essa autonomia não favorece a máquina, principalmente à máquina egoica, bem corriqueira, rasteira e relacional. A máquina se vale da disponibilidade 'cultural' passiva, de uma não-auto-suficiencia-emocional de massa, do buraco que não pode ser tapado a não ser com aquilo que se é realmente. 

Essa disponibilidade não envolve nível economico determinado; todos, em todas as classes estão disponíveis e agem para permanecerem onde estão: distantes de Si-mesmos e perdidos em afeto e desejos de terceiros (alienados no olhar do outro, Lacan). Alguns receberão mais por manterem essa ordem rígida, outros não recebem nada ou muito pouco mas a moeda, de fato, são afetos e inserção (as relações por insuficiência, Naranjo) - a remuneração - ou a manutenção da sobrevivência é o caráter compensatório ou punitivo do jogo; não há justiça para além do desenho rígido da estrutura, e essa estrutura é completamente alicerçada sobre a injustiça. 

A dinâmica que sustenta o grupo social naturalmente rechaça qualquer aroma do indivíduo inteiro. Qualquer traço da ausência de barganha afetiva e da necessidade de coisas tocará na regra gregária, na ordem do grupo e do considerado humano e nesse ponto acontece a primeira iniciação - tudo ao redor se mantém por acordos de igualdade categórica - querem categorizar apenas. Nos ditames do mundo decaído escravos devem se portar como escravos e senhores como senhores; não discorrem nesses termos mas do indivíduo simples ao erudito, do miserável ao abastado essa individualidade que não-está-na-mira-de-nada e não cabe em nenhuma categoria é sentida como algo peculiar, uma ousadia, uma excentricidade como mínimo, mas rapidamente cairá no cerne do ressentimento e ódio: educação, bom trato e honestidade não são diretrizes, são fachadas, o que querem é carne e ossos, querem controle sobre o corpo, sobre o desejo e decisões. Querem pessoas passivamente alocadas.

Investigue e veja diretamente toda ressonância em torno da liberdade em ato, ou em imobilidade, silêncio, não importa. Todas as forças sociais e interpessoais reativas e contrárias a esse processo sagrado e inevitável.

Bruno Fontoura




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