O tempo de vida, a trajetoria mantida, a hora da morte





Existem dois aromas predominantes que delimitam as sendas ayahuasqueiras contemporâneas: o trabalho gregário e a alocação dos participantes numa cena montada - e o trabalho dentro e incisivamente voltado para o caminho próprio. Esse segundo aroma não é comum e corrente; a ayahuasca, mesmo que, em si mesma, seja libertária (uma experiência orgânica de ordem libertária) teve que se valer do sincretismo e se estabelecer como fenomeno urbano regulador, e cumpre sua função social e religiosa como deve: uma possibilidade para pessoas que estão, momentaneamente ou não, nesse tipo de busca. 

Mas sobre o 'esotérico' do 'caminho' além do social regulador não há como servir a dois senhores. Ou se cumpre a função de sustentação do Outro da cultura ou se trabalha com o fogo da #apropriação como o caminho mais direto para o Si-mesmo. Afinal, o tempo de vida, a trajetória mantida e a hora da morte são completamente individuais, e podem não ser se você tem o hábito cultural de entregar o ouro pro bandido (tempo de vida - identificação com falsas representações - sentimentalismo místico).

Nada sobre a terra é gratuito, e qualquer discurso sobre ajuda espiritual e caridade que não seja uma crua, desvinculada e sigilosa 'ajuda e caridade' (enfim, ausente de discurso) já tem imbuído o ranço do controle, do policiamento moral e da perda da dignidade daqueles que dizem sim de bom grado, comovidos pela ação dos 'ajudadores socio-espirituais'.

A ayahuasca não tem nada a ver com instituição religiosa e seus jogos de compensação, de irmandade e broderagem passiva haribo...Ela é apropriação, individualismo pragmático, honestidade com cada momento e completa libertação de qualquer tipo de status quo ou perda de tempo.

Bruno Fontoura

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