As pessoas estão em sonho. E querem validar o próprio sonho através da platéia. Quanto maior a platéia maior o sonambulismo.
A neurose não pode ser amortecida, acolhida, não pode ser normatizada. Uma forma de normatizar a neurose é associá-la à carne, ao corpo, à estados espirituais evolutivos; dar um caráter metafísico para os desvios de personalidade e junto uma indulgência, covarde, medíocre, de grupo, em manter acordos de passividade diante do absurdo.
Existem regras de grupo, tabus de comunidade, armadilhas da dinâmica religiosa que travam todo o processo, não permitem passos bem dados como humanidade. O respeito natural àqueles que são mais velhos, na lente e escuta invertida dos inocentes representa, como regra social, um respeito às neuroses que deveriam ter sido vistas muito antes. Na terra o filho da puta paga para seguir a filha-da-putice e vendedores de doce são uma contraparte abundante. A neurose segue sendo protegida, amortecida, acolhida e relevada pelos bons samaritanos e comerciantes.
O que mantém a maldade normatizada, a neurose social e as armadilhas das interrelações são os interesses e o teatro da bondade. A covardia dos mediadores e a excitação da platéia que na verdade sabe que o palhaço é palhaço, que a novela é novela. Jogam doces no palco e comem pipoca na arquibancada.
O ajuste, a justa balança e a espada necessária e orgânica são elementos do iniciático, daquilo que todos sabem pelo próprio corpo mas transformar em ato exigirá, no atual momento da cultura, trabalho em direção a si mesmo.
Bruno Fontoura
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