Um rápido lampejo, uma aparição mágica; quase um estalo de cores e movimentos num tempo circunscrito, nem sempre generoso, algumas décadas apenas. Nessas poucas décadas de aparição
ganhaste a vida exatamente como é, não há escolha nesse ponto; seu corpo é pura
urgência, sua sensibilidade sangrará e há algo de próprio a ser conquistado que
só assim acalmará a sua ira. Onde colocas teus ouvidos, as cenas que decide
mirar, o que permite em presença, as mentiras do seu discurso e aquelas que valida; teu
galinheiro, seus animais, os teus iguais da cercania.
Cada momento é seu,
não há envolvidos apenas um galinheiro alimentado. Cada minuto, dia, anos, cada
gesto que não é gesto e sim revelação é parte desse ofício que pelo bem geral
tomará sua vida. Algo pode ser feito se sacares a trama. Um dia apenas fora do
galinheiro aprenderás um novo ofício, o arado verdadeiro,
e sobre ele um belo dragão a ser nutrido. Estarás sozinho nesse deserto e
haverá espaço para ver o porque da trama, o montante de vida não apropriado, a escolha
permeada pelo outro, a inutilidade-imunda que abraças.
Bruno Fontoura
Leia: