Os acordos-entre-irmãos



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Acordos de não-singularização.

- Acordos de autoridade e submissão.

- Acordos de pasteurização.

- Acordos de não-afirmação.

- Acordos de superstição, acordos de medo.

- Acordos de roubo, poetizado como um compartilhar.

- Acordos de ofício (todo "ismo" estrutural).


Todo o jogo dos acordos mantém o que chamam nas vias esotéricas de mundo decaído - a subjetividade decaída - o corpo e as funções do instinto degeneradas. Os acordos são tramitados em três eixos de identificação ou valoração: o dinheiro (o acesso irrestrito, o desejo irrestritamente atualizado), a cor da pele (origem étnica e tudo que traz consigo - a diferença concreta), e a estética e seus fetiches, a diferença relativa...A ordem dos fatores altera a alocação-aversão-receptividade-dos-irmãos.

Todos os problemas e soluções do mundo não possuem base metafísica. Não há nenhum pecador pagando por algum pecado nem obsessores espirituais determinando o andamento das coisas; a cena já está armada, pronta, e o que está por trás é algo tão concreto, humano e histórico como uma construção civil com falha grave pronta pra desabar. Diante dessa concretude e obviedade gritante, narrativas envolvendo karma de vidas passadas, defectividade espiritual, evolução são fomentadas; importância pessoal, racionalizações, desejo de continuidade e mais lenha na fogueira da ilusão...Demandas de amor sendo narradas até que a tranqueira do mundo, articulada a bel prazer pelo mundo, se cumpra. 

O jogo é compartilhado mas acaba individualmente, as pessoas não sabem disso. O compartilhar do jogo dá a falsa sensação de que está tudo certo. Isso é avidya, maya, sugestionabilidade sonambulica, ilusão.

A partir de uma dialética, toda narrativa estabelecida no tempo e no espaço só poderão ser poesia. Poesias sensatas e poesias delirantes, apontamentos certeiros e erros grosseiros de alvo.

Bruno Fontoura

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