A ayahuasca é uma experiência de sutilização extracorpórea, de uma acentuada leveza e visões que se passam internamente. A atividade corporal nesses momentos é naturalmente mínima; como uma viagem lúcida onde o corpo se torna etéreo. Isso faz da experiência algo cerimonial e profundamente investigativa; o setting ou local, cultura, simbologia, condução e espaço vivencial são extremamente mais importantes que o estado emocional / subjetivo do momento. Por essa razão a ayahuasca é um instrumento impecável para o processo terapêutico e psicoespiritual. Mesmo estando mal internamente, passando por embates ou questões emocionais sérias ela atua diretamente como mecanismo de purga (limpeza) e ajustes em todo o sistema, fazendo com que o corpo esteja entregue a essa ação; leve e 'aberto' a uma imobilidade natural e propícia ao estado meditativo.
A lisergia, que também possui características de introspecção profunda e visionária navega em outra instância de ativação. Um estado emocional desagradável ou complicações prévias podem ser vivenciadas sob a ampliação desse outro tipo de ativação, como um adentrar por completo no "terrorifico da cena ou das aversoes e medos" caracterizando a "viagem ruim" das experiências psicodélicas.
A ayahuasca não pode ser retirada do campo das substâncias que dependem de um estado pessoal e contexto adequados, mas são mecanismos diferentes de preparo, de trabalho e de travessia; são escolas diferentes. A ayahuasca é materna e uma tecnologia terapêutica completa por essa característica: de autorregulação ou de pureza e ajustamento dentro de qualquer circunstância pessoal prévia, sendo medicina, de fato.
Bruno Fontoura